quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A NOITE ESTRELADA



Gerana Damulakis

Imagino que ocorra o mesmo com os poetas e com os amantes da poesia: basta olhar uma noite estrelada e os versos de Bilac chegam naturalmente. Tantas vezes me atrapalho com alguma palavra, mas não deixo de lembrar este poema que atravessa os anos, dito nas noites estreladas. Talvez seja o exemplo mais conhecido da poesia de Olavo Bilac (1868-1918), talvez nem seja seu poema maior, mas é aquele que traz um verso, ou alguns versos, memoráveis, amiúde citados, quando olhamos as estrelas.

VIA LÁCTEA

-------------Olavo Bilac

-------XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...



E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.



Direis agora! "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"



E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas".



Ilustração:
A Noite Estrelada
Vincent van Gogh, 1889
óleo em tela
73,7 × 92,1 cm
Museu de Arte Moderna de Nova York

VIVA A POESIA VIVA