domingo, 6 de julho de 2008

UM BEIJO ROUBADO

A. Pedro






Que filme lindo! E por mais tendenciosa que esta opinião possa parecer, não é bem assim.Ouvindo pareceres controversos e alguns bem estapafúrdios, abri o coração e fui ver despido de todo e qualquer pré-conceito, esperando qualquer coisa. A surpresa foi das melhores.Réu confesso da obra de Wong Kar Wai, me arrisco a dizer que seja ele uma das coisas mais legais da atualidade- e um dos que mais sabem retratar o amor e todas as suas dores na tela. Talvez o melhor. Diretor chinês de longa data iniciou-se na década de 80, mantendo uma produção intensa e significativa durante os anos 90, quando passou a fazer sucesso em território não asiático. Mas foi a partir de 2001 que ganhou notoriedade, ao ganhar algumas indicações e levar um prêmio técnico. Amor a flor da pele, conta a sensível história de dois amantes presos pelas convenções sociais de uma Hong Kong secentista. As histórias de Kar Wai são permeadas por amores trágicos, oprimidos. Dramas recheados de lirismo e poesia. Crueza não é o seu forte. Assim, como a maioria dos profissionais de cinema que se destacam pelo mundo, dá agora o ar da sua graça em Hollywood. E é por isso que Um Beijo Roubado divide tantas opiniões. A sua aventura no cinema estadunidense mantém o lirismo, a poesia, a sensibilidade. Mas não foca na tragédia das personagens- por mais que todas elas sejam compostas por histórias sofridas, a atenção não está voltada para lá. Uma mulher desiludida com o relacionamento que termina, entra num bar para deixar as chaves de casa. Trava, então, um diálogo com o dono do estabelecimento, onde desenvolvem uma relação afetuosa e dúbia. Mas antes de se deixar envolver, ela decide deixar a cidade e viajar pelo país, encarando uma jornada solitária para se libertar do passado. Nesse climinha de Road movie, ela vai conhecendo personagens singulares, que vão, passam pela sua vida, marcando-a. Um elenco magnífico de estrelas competentes é reunido para apoiar Norah Jones, na sua estréia fofa como protagonista. Jude Law se despe da estonteante beleza cinematográfica habitual, para encarnar um dono de bar verossímil, bonito e com alguma simplicidade. Rachel Weisz aparece como uma femme fatale decadente, ex-mulher de um alcoólatra amargurado (David Strathairn). Ainda há também a participação de Natalie Portman, gloriosa, fabulosa, maravilhosa e cansativamente bem adjetivada para a eternidade por quem vos escreve. Assumo e afirmo a tietagem tendenciosa e quase-vulgar aqui.O filme todo possui uma deliciosa atmosfera de madrugada, bem conhecida por insones assumidos. A fotografia abusa das cores quentes e de ângulos inusitados, capturando grande parte das cenas atrás de vidros e vitrines, expondo as histórias e dores (por mais que não seja esse o tema, insisto) das personagens. É tudo lindo e dá uma vontade absurda de rever. Wong Kar Wai acertou mais uma vez. E ele arrasa!
A. Pedro assina o blog Primeira necessidade (entrada pelo meu). É crítico de cinema e teatro.